O Avanço dos Pneus Importados no Brasil: Oito Anos de Transformação no Mercado de Transporte (2017–2024)

Por Pedro Gobbi

Introdução

Há poucos anos, pneus importados ainda eram vistos com desconfiança por muita gente do setor — inclusive por mim. Mas o mercado muda — e quem vive o transporte sabe disso. De 2017 até aqui, vimos uma virada. Marcas asiáticas dominaram o volume de importações e mudaram o jeito de pensar reposição no transporte pesado. Neste artigo, compartilho uma visão prática e analítica sobre essa transformação no mercado brasileiro.



Pneus de Alta qualidade vindos da Ásia ao Brasil

2017–2024: Os Anos que Redefiniram o Mercado de Pneus no Brasil


Entre 2017 e 2024, o Brasil viveu um crescimento expressivo nas importações de pneus vindos da Ásia. Segundo levantamento da Veja, as importações de pneus da China, Vietnã e Malásia aumentaram 117% nesse período. Em paralelo, as vendas de pneus nacionais caíram 18%, pressionadas por preço, competitividade e estrutura logística.

Em 2024, as importações totalizaram mais de 54 milhões de unidades. A China lidera com 44% de participação, seguida por Vietnã, Índia e Malásia. O cenário que antes era dominado por marcas tradicionais passou a abrigar dezenas de novas opções.


O movimento começou com foco no preço, mas a partir de 2020, muitas marcas asiáticas passaram a evoluir em qualidade, estrutura de distribuição e resultado em campo. Hoje, fazem parte da estratégia de frotas que buscam redução de TCO sem abrir mão de rendimento.

Importações de Pneus no Brasil (2017–2024)

Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANIP, Comex Stat e publicações setoriais.


Este gráfico mostra a evolução no volume de importações de pneus para o Brasil nos últimos 8 anos. O crescimento é puxado principalmente por pneus de origem asiática, que passaram a ocupar uma fatia cada vez maior do mercado nacional. A partir de 2020, observa-se um salto relevante, reflexo da retomada econômica e da busca por opções mais competitivas no custo por quilômetro.

Do Contêiner à Estrada: O Impacto dos Pneus Importados no Transporte Brasileiro

Com o crescimento das importações, o mercado de pneus no Brasil passou por uma descentralização. Marcas tradicionais perderam espaço, enquanto novas fabricantes — muitas delas asiáticas — começaram a disputar volume, preço e atenção nas prateleiras.

Essa nova dinâmica mexeu com toda a cadeia:


  • O distribuidor passou a negociar com dezenas de marcas diferentes.
  • O gestor de frota teve que desenvolver critérios técnicos para avaliar o custo-benefício.
  • O autônomo, pressionado pelo diesel e pelos fretes achatados, buscou alternativas viáveis para manter o caminhão rodando sem comprometer a segurança.


Foi nesse cenário que termos como CPK (Custo por Quilômetro) e TCO (Custo Total de Propriedade) passaram a fazer parte do vocabulário até dos profissionais mais operacionais. Afinal, quem compra errado hoje… sente no bolso amanhã.


E no meio de tantas opções, escolher a marca certa virou quase uma questão de sobrevivência. O pneu, que antes era visto apenas como custo fixo, passou a ser analisado como ativo estratégico para o transporte rodoviário brasileiro.


Participação dos Principais Países nas Importações de Pneus (Brasil, 2024)

Fonte: Elaboração própria com base em dados do Comex Stat e PGL Brasil.


O gráfico apresenta a participação percentual dos principais países exportadores de pneus para o Brasil em 2024. A China domina com 44% do volume, seguida por Vietnã, Índia e Malásia — todos com forte presença no setor de transporte rodoviário. Os dados reforçam o protagonismo asiático nas importações e o papel dessas regiões na transformação do mercado nacional.


O Novo Desafio: Escolher Certo em um Mar de Opções

O crescimento das importações consolidou o pneu asiático no mercado brasileiro, mas também expôs novos desafios. O primeiro deles é o próprio cenário externo: o dólar instável e o custo elevado do frete marítimo seguem pressionando o preço final. Importar se tornou mais estratégico — e menos impulsivo.


Além disso, a explosão de marcas no mercado trouxe um problema real: a dificuldade de identificar o que entrega resultado e o que só entrega preço. Muitas empresas entraram no Brasil com pneus que não passaram no teste da estradapouca durabilidade, falhas de carcaça, baixa recapabilidade.


É nesse cenário que o mercado começa a se reorganizar. Marcas importadas com suporte local, rede de distribuição estruturada e atendimento técnico ganham vantagem. Já os “aventureiros” perdem espaço.


Hoje, mais do que nunca, quem está no transporte precisa olhar além do preço de compra. A escolha do pneu certo afeta consumo, desgaste de suspensão, tempo parado e até segurança na estrada. No final das contas, a economia real continua sendo fazer conta.


Quando o Pneu Deixa de Ser Custo e Vira Estratégia

O pneu importado não é mais uma solução temporária ou uma escolha paralela. Ele virou protagonista em grande parte das frotas do país. A combinação entre custo acessível, desempenho técnico e presença no mercado consolidou sua relevância.


Mas essa transformação exige mais responsabilidade — tanto de quem importa, quanto de quem distribui e de quem compra. O setor aprendeu que não é sobre pagar menos, é sobre escolher melhor.


Os próximos anos vão separar quem entrega resultado de quem vende apenas promessa. E quem estiver preparado, com visão estratégica e foco em performance real, vai colher os frutos.


Porque quem roda sabe: economia de verdade não é o menor preço — é o que entrega até o fim.




Pedro Gobbi
Especialista em pneus e distribuição no transporte rodoviário

O Avanço dos Pneus Importados no Brasil: Oito Anos de Transformação no Mercado de Transporte (2017–2024) O Avanço dos Pneus Importados no Brasil: Oito Anos de Transformação no Mercado de Transporte (2017–2024) Reviewed by Redação Canal Diesel on 29 maio Rating: 5

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