A Logística Invisível do Pneu
Como o frete, o dólar e o cenário global interferem no preço no Brasil
Por Pedro Gobbi
Quem olha de fora acha que o pneu é só mais um produto de troca. Mas quem vive o dia a dia do transporte e da distribuição sabe que não é bem assim. O que muita gente não percebe é o peso que frete, dólar, conflitos internacionais e até a carga tributária jogam em cima do preço final.
Hoje, o valor que chega pro cliente não depende só da fábrica — depende de uma engrenagem mundial que muda o tempo todo.
O preço do pneu não nasce na fábrica
Durante muito tempo, achava-se que o preço era definido pela borracha, lona e custo de produção. Mas isso mudou. O frete virou protagonista.
- Em 2021, o frete de um contêiner 40 pés da Ásia pro Brasil bateu US$ 13 mil
- Em 2022 e 2023, ficou em torno de US$ 6.500–7.000
- Em 2024, disparou novamente: em julho, chegou a US$ 10.550
Agora, some isso a um dólar alto, inflação acima de 5% e componentes importados cobrados em dólar — mesmo em produto nacional.
Guerras e problemas globais
- Guerra na Ucrânia encareceu diesel, energia, aço e borracha
- Tensões no Mar Vermelho e Canal de Suez afetaram rotas marítimas
- Pirataria e ataques a navios aumentaram custos
Importador e distribuidor
O importador compra caro, torce contra o dólar, corre risco de encalhe e ainda concorre com quem opera fora das regras.
O distribuidor precisa entender de câmbio, logística, crédito e geopolítica, além de entregar no prazo. Vender pneu exige estratégia.
O frotista sente no bolso
Com margens apertadas, o frotista busca o mais barato, que pode sair caro: desgaste rápido, sem recapagem e sem suporte técnico. Isso gera prejuízo.
Fator Brasil
A carga tributária pesa: ICMS, ST, PIS/COFINS muitas vezes impactam mais que o frete.
Sem discutir impostos, não dá pra falar em competitividade.
Visão de mercado
Hoje, vender pneu exige visão estratégica, antecipação de cenário e leitura de contexto. Quem não evolui, fica pra trás.
O que vem pela frente
O futuro será ainda mais desafiador: instabilidade global, regras ambientais, dólar volátil e custos logísticos altos. Vai sobreviver quem tiver preparo e capacidade de adaptação.
Pedro Gobbi
Especialista no mercado de pneus para transporte. Estratégia comercial e visão de cadeia completa.