Estudo projeta frota de caminhões 47,8% maior até 2040 e destaca biometano e biodiesel como pilares da descarbonização no Brasil
Levantamento encomendado pelo Instituto MBCBrasil revela que o país pode reduzir até 70% do uso de diesel no transporte pesado com biometano e biodiesel.
O Brasil caminha para uma transição energética com múltiplas rotas tecnológicas, aproveitando sua matriz elétrica renovável e o potencial dos biocombustíveis. É o que aponta o estudo “Iniciativas e Desafios Estruturantes para Impulsionar a Mobilidade de Baixo Carbono no Brasil até 2040”, elaborado pela LCA Consultores a pedido do Instituto MBCBrasil.
De acordo com o levantamento, dos 3,3 milhões de caminhões projetados para 2040, cerca de 2,9 milhões continuarão movidos a combustão interna, enquanto 274,1 mil utilizarão gás natural ou biometano e 253,8 mil serão elétricos. O estudo mostra que, apesar da lenta participação dos modelos sustentáveis, a frota de veículos pesados deve crescer 47,8% nas próximas décadas, saltando de 2,3 milhões para 3,3 milhões de unidades.
Atualmente, os caminhões com motor a combustão representam 99% da frota nacional (2,2 milhões de unidades). Em 2040, essa participação deve cair para 85%, embora com volume absoluto maior, refletindo o crescimento total do setor.
Biocombustíveis e energia limpa em ascensão
Em relação à demanda por combustíveis, o estudo propõe dois cenários. No cenário base, a mistura máxima de biodiesel no diesel comercializado chega a 20% em 2035, enquanto no cenário alternativo esse percentual atinge 25%. A demanda por eletricidade nos veículos pesados deve crescer 27,1% ao ano entre 2025 e 2040.
A redução das emissões no transporte pesado dependerá, principalmente, do avanço do biodiesel e do biometano. A capacidade efetiva de produção de biodiesel poderá atingir 17 bilhões de litros em 2040, um aumento de 15,6% no período. Já o biometano desponta como uma das principais oportunidades para a descarbonização do transporte e o fortalecimento da segurança energética nacional.
Produzido a partir de resíduos agroindustriais, o biometano tem potencial para substituir até 70% do consumo de diesel no transporte pesado até 2040. Com isso, o Brasil pode consolidar novos polos de desenvolvimento regional, especialmente nas áreas agropecuária e sucroenergética, com potencial produtivo de até 120 milhões de metros cúbicos por dia.
“As projeções indicam que o custo marginal de descarbonização do transporte é otimizado quando o país aproveita as rotas já consolidadas e introduz gradualmente novas tecnologias, como o biometano. Essa combinação reduz riscos e permite uma trajetória de investimento mais estável”, explica Fernando Camargo, sócio-diretor da LCA Consultores.
Mobilidade de baixo carbono como vetor estratégico
Segundo o Instituto MBCBrasil, o desafio é transformar o potencial técnico em resultados estruturantes, com políticas públicas consistentes, infraestrutura adequada e previsibilidade regulatória.
“O Brasil tem condições únicas para liderar uma transição energética eficiente e inclusiva, capaz de unir crescimento econômico e sustentabilidade. O avanço das novas tecnologias e o fortalecimento dos biocombustíveis mostram ser possível reduzir emissões e, ao mesmo tempo, ampliar oportunidades de desenvolvimento”, afirma José Eduardo Luzzi, presidente do Instituto MBCBrasil.
Outro ponto destacado é o HVO (Hydrotreated Vegetable Oil), conhecido como diesel verde, cuja demanda pode chegar a dois bilhões de litros em 2040, representando cerca de 3% da mistura no diesel.
Etanol e inovação fortalecem a matriz renovável
O estudo também aponta que os biocombustíveis terão papel essencial na transição energética brasileira, com destaque para o etanol, considerado um dos maiores diferenciais competitivos do país. A demanda por etanol pode aumentar 2,4 vezes até 2040, impulsionada pelo consumo interno e pela abertura de novos mercados internacionais, especialmente nos segmentos de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) e transporte marítimo, que devem representar 80% da demanda total de etanol do ciclo Otto em 2025.
Apesar do aumento da demanda, a oferta será garantida pela evolução tecnológica da cana-de-açúcar e pela expansão do etanol de milho, reforçando a segurança energética nacional. A produção de etanol de milho deve saltar de 7,6 bilhões de litros em 2024 para até 25 bilhões em 2040, consolidando o Brasil como fornecedor estratégico global de energia limpa.
Com avanços genéticos e biotecnológicos, o setor sucroenergético busca dobrar a produtividade da cana-de-açúcar até 2040, fortalecendo a competitividade e a sustentabilidade da oferta nacional de biocombustíveis.
Conclusão
O estudo da LCA Consultores e do Instituto MBCBrasil reforça que o futuro da mobilidade sustentável no Brasil depende da integração entre inovação tecnológica, políticas públicas e aproveitamento das vantagens competitivas nacionais. Com biocombustíveis, biometano e energia elétrica avançando lado a lado, o país tem condições de se tornar um referencial global em descarbonização do transporte pesado.
Crédito: LCA Consultores | Instituto MBCBrasil
Reviewed by Redação Canal Diesel
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07 novembro
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